O partido Frelimo está a obrigar funcionários públicos a recensearem-se em locais específicos e apresentar os respectivos cartões às estruturas partidárias. Os principais alvos são professores, que são obrigados a recensearem-se nas escolas onde lecionam, mesmo residindo em outros bairros.
“Estamos a receber mensagens do partido para irmos ao partido com nossos cartões de eleitor e quando chegamos lá eles levam nossos números de cartão e põem aí e nos mandam assinar”, este é o conteúdo de uma mensagem de áudio de uma professora que circula em redes sociais desde o início desta semana.
O Boletim fez a verificação dos factos e apurou que o registo de áudio é verdadeiro e é de uma professora afecta ao distrito de Milange, na Zambézia. A professora denuncia haver recolha compulsiva dos dados de cartões de eleitor dos professores pelo partido no poder.
Nossos correspondentes neste distrito confirmaram a denúncia e dizem que a situação é generalizada por todo o distrito.
Uma secretária de célula da Frelimo no bairro Eduardo Mondlane em Milange, de nome Isménia Ginove, confirmou o registo paralelo dos professores pelo partido Frelimo mas não disse a que se destina. “Levam os seus cartões para apresentar ao comité do partido Frelimo para retirar o número do cartão assim como o nome do funcionário”, disse.
Este tipo de prática não é nova! Em 2018, aquando das eleições autárquicas, todos os professores foram obrigados a recensearem-se no posto da EPC de Milange-sede. Após o registo, os professores deviam tirar uma foto do cartão de eleitor e enviar para o director da instituição através de WhatsApp.
A Frelimo está também a obrigar professores a recensearem-se pela segunda vez, nos casos em que estes já tenham se inscrito em outros postos não indicados pelas direções das escolas.
“A pessoa quando recenseia duas vezes não há problema?… eu me recenseei em Quelimane e estão a obrigar-nos a recensear aqui em Namacata. [Por ordem da] direção de Nicoadala, todos os professores estão a recensear em Namacata”, refere um professor.
No distrito de Nicoadala, na EPC de Licuar na vila sede, professores são obrigados a apresentar os seus cartões de eleitor no gabinete do director da escola. O mesmo repete-se na localidade de Namacata, na EPC Domela, reportam os nossos correspondentes.
Na vila sede do distrito de Inhassunge, professores afectos à Escola Secundária de Inhassunge receberam ordens da direcção daquela instituição para recensearem-se no posto instalado na Escola Eduardo Mondlane. A maioria dos professores em causa já se registou nas autarquias onde reside, reportam os nossos correspondentes.
A direcção da escola justifica que todos os professores devem possuir residência fixa perto do seu local de trabalho, daí a necessidade de se cumprir com esta orientação.
A dupla inscrição de professores que já se tenham anteriormente registado é do conhecimento do STAE local e dos brigadistas afectos àquele posto. Após o registo, os professores são instruídos a preencherem os seus dados numa lista que circula em nome do partido Frelimo. O STAE local recusou-se a dar informação aos nossos correspondentes.
Em Muxúngue, distrito de Chibabava, funcionários públicos do sector da Educação e membros da Unidade da Intervenção Rápida (UIR), estão a ser obrigados a apresentar os seus cartões de eleitor nos seus locais de trabalho, reportam os nossos correspondentes.
Ainda neste distrito, alunos das Escolas Primárias Completas 1 de Maio e Bispo Handerson, que tenham idade para votar, foram instruídos a recensearem-se e apresentarem os seus cartões de eleitor à direção da escola alegadamente por ordens superiores.
O Boletim apurou que o actual secretário distrital do partido Frelimo em Chibabava, Mouzere Alberto, é igualmente director dos serviços distritais de educação, juventude e tecnologia.
Reassentados sem recenseamento em Tete
Pelo menos 500 famílias reassentadas em Chimbondo, na cidade de Tete, ainda não foram abrangidas pelo recenseamento desde 15 de Abril, reportam os nossos correspondentes. Estas são famílias cujas casas desabaram com as cheias e inundações sobre o Rio Revubwé que assolaram a cidade a 8 de Março deste ano.
A Chefe de Comunicação e Imagem do STAE local, Maria Jacinta, disse ao Boletim que os reassentados podem fazer o registo nas Escolas Primárias de Nyafuta e Alberto Vaquina. Muitos dos cidadãos que se encontram no campo de reassentamento perderam a documentação aquando das cheias, o que torna ainda mais difícil os seus registos em postos distantes das suas residências.
Entretanto, o STAE distrital ainda não tomou nenhuma medida para recensear as famílias. Contactado pelo Boletim, o director do STAE provincial prometeu averiguar o caso ao qual considerou de estranho.
Recenseamento compulsivo em Inhambane
O partido Frelimo em Morrumbene instruiu líderes comunitários a fazerem campanha porta à porta para exigirem cartões de eleitor aos cidadãos com idade eleitoral.
A medida surge na sequência da alegada baixa afluência de eleitores que se verifica um pouco por todos os postos a nível do distrito. Até o momento, o distrito inscreveu 60% da meta prevista pelo STAE, reportam os nossos correspondentes.
Mau atendimento gera agitação na EPC de Ehiline, em Rapale
No distrito de Rapale cidadãos denunciam mau atendimento dos brigadistas afectos ao posto da Escola Primária Completa de Ehiline. Estes rejeitam inscrever eleitores que, não possuindo documentos, vem acompanhados de testemunhas e proferem palavras injuriosas aos cidadãos que se dirigem ao posto para recensearem-se pela primeira vez.
Alguns eleitores chegam a abandonar o local devido a hostilidade que se faz sentir no posto, reportam os nossos correspondentes.
Um dos nossos correspondentes ouviu na tarde de hoje (14h00), um dos eleitores que viveu, na primeira pessoa, a tensão que havia no posto.
“Cheguei a trocar palavras com um dos brigadistas, mas decidi ir para casa para evitar o pior”, disse.
Entretanto, a fonte denunciou, ainda, haver naquele posto alegada inscrição de pessoas que não obedecem a fila.