As avarias constantes dos equipamentos usados para o recenseamento eleitoral em curso, com destaque para as impressoras, impediram muitos cidadãos recenseados de receberem os respectivos cartões de eleitor. Faltando 4 dias para o fim do processo, muitos postos de recenseamento estão inundados de cartões de eleitor cujos titulares não os puderam levantar na hora do recenseamento e agora aparentemente desistiram ou simplesmente não sabem que seus cartões já estão impressos e disponíveis.
Por iniciativas locais, alguns líderes comunitários estão a andar de casa a casa a entregar os cartões. Isto resulta nas zonas rurais com baixa densidade populacional. Nas vilas e cidades, com grandes aglomerados populacionais e sem sistema postal efectivo, a entrega de cartões de eleitor ao domicílio é uma tarefa muito difícil.
Não há números precisos de quantos cartões estão nos postos de recenseamento à espera que os respectivos titulares efectuem o levantamento. Mas, são muitos. A causa para não impressão dos cartões de eleitor no mesmo instante em que as pessoas eram recenseadas é a avaria de impressoras. O STAE deu ordens aos brigadistas para em caso de avaria de impressora, continuassem a inscrever os eleitores, informando-os que devem voltar outro dia para efetuarem o levantamento dos respectivos cartões.
Com base numa pesquisa realizada e nas reportagens dos nossos correspondentes em todo o país, estimamos que a avaria dos equipamentos afectou pelo menos 10% dos 7 737 postos de recenseamento criados em todo o país.
Nossos correspondentes visitaram muitos postos onde foram informados que há muitos cartões à espera de levantamento. Isso acontece em todo o país, incluindo na cidade capital Maputo.
No Distrito de Marracuene, posto de recenseamento da EPC 16 de Junho, no bairro de Kumbeza, estão 103 cartões à espera dos respectivos titulares para efectuar o levantamento.
Em Marracuene ainda, no posto da EP2 de Bozale, até ao dia 24 de Maio os brigadistas referiam ter guardados 31 cartões à espera dos respectivos titulares. Aqui o STAE distrital disponibilizou recargas de telemóveis para os brigadistas telefonarem aos titulares dos cartões a informar que seus cartões já estão impressos e disponíveis para levantamento.
A directora distrital do STAE de Marracuene, Brígida Malate, disse a este Boletim que “vai trabalhar com os secretários dos bairros e chefes de quarteirão para localizar os titulares dos cartões à espera de levantamento”.
Nossos correspondentes nos distritos de Limpopo, província de Gaza, Inhassoro, na província de Inhambane, reportam o mesmo problema de muitos cartões por levantar.
Embora não determinante, o cartão de eleitor é fundamental para que o eleitor possa identificar-se como tal e votar. É possível votar sem apresentar o cartão de eleitor desde que esteja recenseado e leve ao posto de votação – que deve ser onde a pessoa se recenseou – um documento de identificação com fotografia, como carta de condução, passaporte, etc. Mas, muitos moçambicanos não possuem tais documentos. Aliás, o cartão de eleitor é, para muitos, o único documento de identificação que possuem, pelo que, este problema pode impedir muitos de votar se não for resolvido atempadamente.
Muitos postos ainda não imprimem cartões
O STAE afirma que o recenseamento decorre com normalidade em todo o país, mas no terreno a situação é diferente. Há ainda muitos postos que inscrevem eleitores e não conseguem imprimir os respectivos cartões, para além daqueles que sequer registam eleitores porque as máquinas estão avariadas ou não há corrente eléctrica para pô-las a funcionar.
No distrito de Morrumbala, Zambézia, no posto da EPC de Sabe não se imprime cartões de eleitor há duas semanas devido a avaria da im
pressora e falta de boletins para inscrição dos eleitores. Centenas de eleitores ainda não receberam seus respectivos cartões, quando faltam 5 dias para o fim do recenseamento que o STAE e a CNE dizem que não irão prorrogar.
“Passam vários dias que não imprimimos os cartões, presumo que sejam centenas de eleitores que ainda não receberam seus cartões”, disse ao Boletim um bigadista afecto à este posto.
A Renamo orientou os cidadãos dos povoados de Raposo e Ngomera, cujo posto de recenseamento mais próximo é EPC de Sabe, recensear-se na localidade de Zero, no distrito de Mopeia, de modo a obter os cartões, reportam nossos correspondentes.
A Renamo informa aos eleitores que a não emissão de cartões pelos brigadistas é parte de uma estratégia de sabotagem da Frelimo para impedir o registo da população que é maioritariamente de militantes da Renamo.
No distrito de Búzi, Sofala, os postos da EPC de Cherimonio, Inhamuchindo e Inhanjou não imprimem cartões de eleitor há dias devido a avarias na impressora e falta de toner. O mesmo acontece também no distrito de Agónia, província de Tete, no posto da EPC de Cherimonio.
No distrito de Ile, Zambézia, eleitores do posto do povoado de Massoco confrontaram os brigadistas locais por conta da não impressão dos seus cartões por mais de uma semana. A situação exigiu a intervenção do STAE para reparar a impressora, que não funcionava há dias. O director do STAE local, Roberto Armando, disse aos nossos correspondentes que, após ter conhecimento, o órgão tomou medidas para resolver o problema.