Conforme o Boletim avançou na sua edição anterior a lei eleitoral conduz a um cálculo incorrecto dos assentos no parlamento. Com base neste recenseamento, a lei ira concede 251 assentos para os 250 assentos disponíveis. (Vide a tabela). A CNE será forçada a decidir que província terá de perder 1 assento.
O elevadíssimo número de eleitores registados em Gaza e o baixo número de eleitores inscritos em Nampula, Zambézia, Niassa e Tete faz com que as regiões centro e norte do país percam 9 assentos para a província de Gaza – uma migração populacional não vista no Censo Geral da População de 2017.
A província de Gaza que ganha 9 assentos votou massivamente na Frelimo e no seu candidato nas eleições de 2014, ao passo que as províncias de Nampula e Zambézia, que perderam 7 assentos, são dominadas pela oposição. Nas províncias de Tete e Niassa, que perderam 1 assento cada, os resultados da Frelimo e da oposição estiveram muito próximos nas Eleições de 2014.
Esta viragem no número de eleitores registados terá efeitos nos resultados da eleição presidencial deste ano.
Quem levou as crianças de Gaza ?
Em Moçambique, metade da população tem idade para votar – excepto em Gaza e Zambézia. O STAE estima que em Gaza 80% da população tem idade eleitoral. Ou seja, apenas 20% da população de Gaza está abaixo de 18 anos. Isto vai contra a os dados oficiais do censo Geral da População, do Instituto Nacional de Estatística que indica que mais da metade da população de Gaza. O STAE acha que a Gaza exportou os seus filhos?
A tabela mostra a população por província do censo de 2017 e a estimativa do STAE da população em idade de votar (acima de 18 anos em 15 de Outubro de 2018). Em seguida, calculamos as percentagens. Oito províncias estão próximas da média nacional. Mas, três são muito diferentes.
Estima-se que Zambézia tenha apenas 41% de adultos, enquanto a cidade de Maputo é estimada em 66% e Gaza tem 80% de adultos. Isso afecta as percentagens de recenseamento (ver a tabela).
As pessoas que se inscreveram no ano passado não precisam de se recensear este ano. Quando combinamos o registo de 2018 e 2019 e corrigimos as três províncias para ter as percentagens nacionais de crianças e de adultos, descobrimos que Zambézia tem o segundo menor recenseamento (depois do Niassa) com apenas 79%, enquanto Gaza tem o nível de recenseamento mais elevado – 161% dos adultos registados.
O Professor da Universidade Eduardo Mondlane, António Francisco, apontou a anomalia numa entrevista ao Boletim ADS Eleições. ADS é uma das organizações da sociedade civil que faz observação eleitoral. Os números da população estão publicados numa brochura sobre o censo de 2017 que torna claro que mais da metade da população de Gaza é menor de 17 anos e esta província não tem menos crianças do que outras.