Um grupo de insurgentes realizou ontem (23 de setembro) dois ataques em distritos de Mocímboa da Praia e Muidumbe em Cabo Delgado. O ataque de Mocímboa da Praia deu-se no Posto Administrativo de Mbau, a 83 km da vila sede do distrito, por volta das 18h00 e prolongou-se até 1h00 da manhã. Ao todo, 10 pessoas morreram resultado do ataque. Metade das casas da aldeia, incluindo a sede local da Frelimo, foram incendiadas.
Na manhã de hoje, a população local saiu em busca de meios de transporte para abandonar a aldeia de Mbau para outros pontos da província de Cabo Delgado, reportam os nossos correspondentes.
Na aldeia, forças da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) tentaram repelir o ataque, levando a uma troca de tiros que se prolongou por várias horas.
O Chefe do Posto Administrativo de Mbau, Adriano Ahmed, também se tinha refugiado nas matas por causa do ataque. Ele disse que quando os guerrilheiros entraram na povoação os insurgentes encontraram muitos jovens concentrados a consumir álcool. “Muitos morreram no local”, acrescentou Ahmed.
Os insurgentes também arrombaram barracas e apoderaram-se de mercadorias. “De seguida, atearam fogo nas barracas e saíram da aldeia com uma viatura cheia de mercadorias”, acrescentou o Chefe do Posto.
O posto administrativo de Mbau tem 5588 eleitores recenseados em 10 assembleias de voto.
Este foi o segundo ataque no mesmo dia. O primeiro ocorreu na povoação de Limala, localidade de Mengueleua, distrito de Muidumbe e resultou em duas mortes. Os insurgentes surpreenderam dois homens com idades compreendidas entre 28 a 30 anos quando se encontravam na machamba tendo sido mortos e esquartejados, por volta das 10h00 de ontem.
Estes são o sétimo e oitavo ataques de insurgentes em Cabo Delgado desde o início da campanha eleitoral. O primeiro ataque perpetrado foi em Outubro de 2017. Entretanto, até hoje, suas causas são pouco conhecidas.
“A tese privilegiada pelo Governo de Moçambique (pelo menos publicamente) diz que o ataque resulta de uma possível conspiração movida por forças externas inimigas do desenvolvimento de Moçambique”, segundo o estudo do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), intitulado Radicalização Islâmica no Norte de Moçambique: O Caso de Mocímboa da Praia há várias interpretações por detrás dos ataques de insurgentes em Cabo Delgado.
Outra interpretação feita no estudo é a “tese de conflito de terras”, tendo como pano de fundo os recursos naturais presentes na zona, até às teses da seita (…) e do jihadismo”. Leia o estudo completo em http://bit.ly/IESE-CaboDelgado
Embora o IESE em seu estudo tenha privilegiado a tese do jihadismo, considera que “a complexidade do fenómeno exige uma pesquisa multidisciplinar aprofundada que tome em conta uma multiplicidade de factores de ordem histórica, social, política, económica e religiosa”.
Simpatizante da Renamo espancado por homólogos da Frelimo em Dondo
Simpatizante da Renamo, Elias Arcanjo Chico, 36 anos, foi brutalmente espancado em sua residência por 15 indivíduos supostamente membros da Frelimo no distrito de Dondo, Sofala. O caso deu-se no passado sábado (21 de setembro) na cidade de Dondo, Bairro central.
Os agressores, na altura trajados de camisetes da Frelimo, introduziram-se na residência da vítima por volta das 19h00 e começaram a espancá-lo, tendo contraído lesões na costela, reportam os nossos correspondentes.
Na altura do ocorrido, o agredido acabava de sair da sede do seu partido. “Logo que cheguei a casa, minutos depois vi 15 homens e, depois, estes começaram a agredir-me” disse Chico. “Não conseguia andar”, acrescentou.
O agredido foi socorrido 30 minutos depois pela polícia e simpatizantes do partido, tendo sido levado para a Unidade Sanitária de Dondo onde recebeu os primeiros socorros. Neste momento, encontra-se em casa, mas ainda não consegue andar devidamente.
A vítima contou, ainda, ao Boletim que, ao longo do dia, caravanas dos dois partidos se cruzaram durante o dia e proferiram ameaças.
O delegado político da Renamo, Albano Luís, confirmou o caso e disse que o mesmo já foi encaminhado as autoridades policiais. “A polícia disse que está a tentar investigar o caso de modo a identificar os culpados”, disse Luís.
Ouvido pelo Boletim, o Chefe das Operações da PRM em Dondo, Araújo Vicente, disse que a polícia registou a ocorrência, mas não pode falar do caso por supostas ordens superiores.
Este é terceiro caso reportado pelo Boletim de agressão por motivações políticas no distrito de Dondo desde o início da campanha eleitoral. Os dois primeiros ocorridos no posto administrativo de Mafambisse e na localidade de Mutua, terminaram com a morte de um simpatizante da Renamo e outra da Frelimo. Entretanto, simpatizantes da oposição queixam-se de serem agredidos sob olhar impávido da polícia.